Entrevista : Cone Crew Diretoria

 Conheça o ConeCrew Diretoria, considerado o Planet Hemp da nova geração


Com suas proporções continentais, o Brasil é, definitivamente, uma terra de contrastes. Numa semana, a Marcha da Maconha em São Paulo foi proibida de circular, e a resposta da polícia aos indignados que tentavam driblar a censura e defender a legalização das drogas foi a truculência. Apenas oito dias depois, a Lapa carioca foi palco para o show livre e desimpedido do ConeCrew Diretoria, grupo de rap que botou a multidão que lotou a praça dos Arcos para cantar a erva, suas agruras e benefícios. Tudo na maior paz. Desconhecido do chamado grande público, o ConeCrew reúne uma verdadeira legião de fãs, seguidores de sua filosofia enfumaçada, rimada em verso e prosa. Formado por Rany Money, Cert, Papatinho, Batoré, Ari e Maomé, todos entre 24 e 25 anos, o grupo de rap nasceu como uma brincadeira de adolescentes que se reuniam para andar de skate e se atracar com o polêmico fumo. Levado pelo assunto proibido, tema ou citação na maior parte de seu vasto repertório, o sexteto cresce e aparece cada vez mais na cena hip-hop carioca.

Há cinco anos na estrada, o ConeCrew é dessas celebridades do underground, espécie artística que emergiu com a ajuda da internet após a falência do velho sistema da indústria fonográfica. Só o clipe caseiro de "Lá pa Lapa", o segundo da banda, já soma invejáveis 700 mil visualizações no YouTube. Com o sucesso, as comparações com o Planet Hemp se tornaram inevitáveis. Ainda mais após o lançamento do segundo disco, em março deste ano, que conta com a participação de Marcelo D2 - líder da extinta e correlata banda de rap-rock - na faixa "Falo nada".

VÍDEOAssista ao clipe de 'Lá pa Lapa', do ConeCrew Diretoria

SAIBA MAISVisite o site do ConeCrew Diretoria e baixe o disco gratuitamente

- O D2 sempre foi uma referência pra nós e sempre nos apoiou. Como "Falo nada" sampleia "Falador passa mal", dos Originais do Samba, logo pensamos em chamá-lo para participar e, para nossa surpresa, ele acabou topando - explicam Papatinho, ou Tiago da Cal Alves, responsável pelas batidas do grupo. O nome ConeCrew Diretoria, dado em alusão ao formato dos baseados artesanais e usado como sigla para o lema "com os neurônios evaporando", foi criação de Rany Money e Cert.

D2 não é o único ex-integrante do Planet Hemp a dar uma moral para os caras:

- Curto muito o som do ConeCrew e estou feliz que eles estão chegando com tudo na cena nacional. Mas o que o ConeCrew Diretoria tem a ver com o Planet Hemp é o fato de o hip-hop ser a raiz de ambos, além do alto teor canábico nas letras - brinca BNegão, que costumava dar expediente como vocalista do Planet Hemp. - Mesmo sobre esse assunto (a maconha), as abordagens são diferentes. Eles têm a onda deles, o RG, um estilo próprio: isso é fundamental.

Nas letras do grupo, a erva da discórdia aparece como musa inspiradora em canções como "Sem a planta" ("tudo pelo baseado eu faço / sem a planta / sem a planta não dá mais) ou até en passant, como pano de fundo do cotidiano daqueles jovens, caso de "Escute mudo" e "EuVoluindo", ambas do disco mais recente. As rimas, espertíssimas, alternam o ar descontraído, de molecagem, com críticas sociais, um sinal de amadurecimento.

Curto muito o som do ConeCrew e estou feliz que eles estão chegando com tudo da cena nacional. Mas o que o ConeCrew Diretoria tem a ver com o Planet Hemp é o fato de o hip-hop ser a raiz de ambos, além do alto teor canábico nas letras, mas mesmo sobre esse assunto (a maconha), as abordagens são diferentes. Eles têm a onda deles, o RG, um estilo próprio: isso é fundamental - BNegão

- Nem pensávamos em fazer do grupo, uma turma que andava de skate, um projeto de som. Antes mesmo de fazer música a gente já tinha camisetas do ConeCrew. Mas o Cert escrevia desde cedo, eu passei a treinar batidas no meu computador e até o Maomé, que era bem ruim no começo, persistiu tanto que começou a evoluir nas composições e hoje manda muito bem. Com a ajuda de um vizinho que tinha um home studio, gravamos a primeira demo e jogamos na internet. E a coisa começou a se espalhar, crescer, quando vimos, o povão estava cantando junto com a gente nos shows - comemora Papatinho.

Os fãs conquistados ao longo do tortuoso caminho, com shows da Zona Norte à Zona Sul (passando pela Baixada Fluminense e pelos estados da região Sul do país), somado ao burburinho causado pela participação grifada de D2 - além dos rappers Shawlin e Don L. - e ao sucesso que os teasers do disco novo fizeram na web chegaram a derrubar o site oficial da banda. Lançado exclusivamente para download gratuito, o álbum "Com os neurônios evoluindo" foi baixado por mais de 30 mil pessoas só no primeiro dia. A comemoração do sucesso veio em forma de um show transmitido ao vivo pela internet.

- Alugamos um estúdio e fizemos uma Twitcam (ferramenta do Twitter que transmite vídeos em tempo real). O apresentador e DJ Marcos Bocayuva comandou o show e fez entrevistas entre as nossas músicas. Deu certo: tivemos mais de dez mil pessoas assistindo à Twitcam. - conta Rany Money, nascido Rany Gabriel Miranda, cheio de orgulho.

Mas nem tudo foi webhit na vida dos seis moleques que abriram mão das mordomias da vida da classe média do Recreio dos Bandeirantes para se aventurar no incerto mundo da música.

- No começo da carreira, quando estávamos com mais de vinte músicas e com uma galerinha local acompanhando e curtindo nosso som, reunimos 17 faixas e lançamos "Ataque lírico", nosso primeiro disco, de 2007. Compramos 700 CDs virgens, carimbamos com o nome da banda, mandamos fazer 700 capinhas e vendíamos cada um por R$ 5 reais - completa Papatinho.

A fase foi marcada por shows sem cachê, périplo de toda banda independente que se preze.

ConeCrew Diretoria e Marcelo D2 / Foto: Blazer / Divulgação

- A gente chegou a tocar em troca de passagem de ônibus, nem cerveja nos davam! Passei a fingir que era o nosso empresário, assinava email como Nunes Antunes, em homenagem ao centroavante do Flamengo e ao Zico, e eu mesmo marcava os shows. Foi o Nunes quem deu uma organizada na bagunça, conseguia desviar das propostas de shows sem cachê e melhorou nossa situação - diverte-se Papatinho, que avisou até a família sobre a mentirinha social, caso alguém telefonasse para sua casa à cata do tal Nunes.

Hoje, graças ao trabalho do falso Nunes, da persistência dos seis e do sucesso que alcançaram nos meios digitais, os integrantes do ConeCrew Diretoria conseguem viver de sua música. Ligado no poder da web, o grupo mantém o site sempre atualizado, integrado às redes sociais: o álbum de fotos fica no Facebook, os vídeos são hospedados no YouTube e um mural mostra tudo o que é falado sobre eles no Twitter. Mesmo assim, o retorno do público ainda espanta.

- Quando fizemos nosso primeiro show em Porto Alegre, em 2009, descobrimos que tínhamos muitos fãs por lá. Tinha até gente esperando no aeroporto com skate e violão na mão, parecíamos até banda grande. Tudo isso graças aos vídeos que pusemos na internet - conta Papatinho.

Os próximos passos incluem a turnê de divulgação de "Com os neurônios evoluindo", a criação de uma loja virtual para vender produtos relacionados à banda e a participação no próximo CD do Detonautas Roque Clube - Tico Santa Cruz é fã declarado dos rapazes. E eles esperam que esse seja só o começo.



Leia mais sobre esse assunto em https://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/06/02/conheca-conecrew-diretoria-considerado-planet-hemp-da-nova-geracao-924591353.asp#ixzz1VyQ9VaYv 

 


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