Entrevista: Emicida não precisa sonhar com nada

 

Domingo passado foi dia de show do Macaco Bong e convidados no Auditório do Ibirapuera. Uma das várias atrações  foi o rapper Emicida, uma das mais recentes revelações da música brasileira (sim, da música brasileira, não só do hip-hop). O Rock ‘n’ Beats esteve lá e, você sabe, já contamos ontem como foi o show.

Depois do show, Emicida, usando a camisa da Vila Belmiro que ganhou um dia antes quando tocou em Santos, caminha tranquilamente pelo auditório, cumprimenta todo mundo, autografa alguns CDs, recebe elogios de fãs, indo ao encontro da equipe do Laboratório Fantasma – selo criado por ele para divulgação independente de seu trabalho.

Eles vendiam as mixtapes Pra Quem Já Mordeu um Cachorro Por Comida Até que Eu Fui Longe e Emicidio, cada uma a dois reais. Em seguida, o rapaz trocou uma ideia com o Rock ‘n’ Beats. Falamos sobre seu show confirmado no Coachella Festival 2011, novos projetos, humildade e triunfos: “está tudo acontecendo, não preciso sonhar com nada”.

Rock ‘n’ Beats: O que mais te inspira na composição de suas suas rimas? Algo que seja bastante recorrente?
Emicida:
 Eu costumo falar que sou muito influenciado pela vida que a gente leva. Acho que a vida tem coisas tristes, felizes e eu me apego muito a essas passagens, para tentar pegar um elemento de cada uma dessas situações. Fazer música com isso e tentar reproduzir dentro da música as sensações que esses momentos trazem. E muito mais do que me inspira é uma paisagem bonita, minha música nasce do caos. Um lugar como São Paulo é muito importante para uma cabeça como a minha. Tem várias informações acontecendo ao mesmo tempo e minha música, de certa forma, também recebe várias referências, de várias coisas, que levam para uma sensação, talvez um estado de espiríto. Essa é minha intenção, reproduzir as sensações que a vida traz pra gente.

Rock ‘n’ Beats: Como você sente que as pessoas absorvem suas mensagens?
Emicida:
 Eu acho que absorvem. Cada uma de uma forma. Mas eu penso de que até as músicas tristes colocam as pessoas meio pra cima. Mas uma parada de auto-estima, não de auto-ajuda. Porque auto-ajuda, o barato é meio deprê, né, mano? Essa fita é foda, né? (diz com tom de ironia). Falar que faz música de auto-ajuda é osso. Mas a gente faz música com a pegada de plantar auto-estima, vontade de conquista nas pessoas.

Rock ‘n’ Beats: E lá no Coachella, como as pessoas vão entender sua música? Será que consegue passar esse clima e auto-estima para eles?
Emicida:
 Lá eles são muito dependentes do idioma, né? Mas eu não fico com medo dessa parada, não. Acho que a gente vai voltar do zero. Aqui a gente chegou num momento que poucas pessoas prestavam atenção na letra e conseguiu trazer essas pessoas graças a intenção que a gente colocava. Eu vou tentar reproduzir essas mesmas ideias lá e acredito que os sentimentos são um só, acho que a gente consegue fazer as pessoas sentirem isso. Acho que consigo causar essa sintonia lá. Claro que a barreira do idioma é muito forte, mas é um desafio que estou disposto a enfrentar.

Rock ‘n’ Beats: E por falar em sensações, o que você sentiu quando soube que ia tocar no festival?
Emicida: 
Isso aí é foda, porque essa pergunta tem uma resposta meio frustrante na maioria das vezes. É porque eu sou frio. As pessoas esperam que eu fale – mano, eu chorei, rolei no chão – mas não, mano. Ligaram no mesmo momento para fechar o Rock in Rio e o Coachella. E fechamos os dois e a gente falou, beleza, dá hora, conseguimos. Mas tem que correr com vários trabalhos, então a gente acaba nem curtindo. Porque a gente tem que correr e fazer mais de um milhão de coisas ainda.

Rock ‘n’ Beats: Você tem tocado em vários lugares em que dão espaço apenas a bandas de rock e indierock do cenário independente brasileiro. A que você atribui isso?
Emicida: 
Os lugares em que a gente conseguiu chegar foi por causa da postura de trocar ideia com todo mundo e respeitar todos os gêneros. Uma parada é essa, a outra é que a frase “A Rua é Nóiz” é muito forte. Eu realmente acho que não tem distinção, eu acho que a música é esse barato da intenção. A pessoa pode estranhar num primeiro momento, mas quando conseguem assimilar a motivação pela qual a gente está cantando, consegue a atenção e presença de todos. E por isso a gente começou a funcionar bem. Isso aí vem de nossa postura na rua, sempre conversei com todo mundo, skatista, pagodeiro, meus amigos, né mano? Pra mim é só uma felicidade maior poder ir em outras cidades e encontrar milhares de pessoas diferentíssimas que, naquele momento da música, são iguais.

Rock ‘n’ Beats: E fazer novos amigos, também né? Imagino o quanto novos amigos você faz nas viagens.
Emicida:
 Tem essas parada também, eu tenho isso mesmo, uma relação dá hora com meus fãs. Até fico meio triste porque eu penso, pô, a parada vai crescendo, tomando uma proporção e não vou conhecer todo mundo que for ao shows. Mas é uma parada natural, vai acontecendo. Mas é dá hora saber que eu fui pra tal lugar e tenho vários amigos lá. Fico mór felizão.

Rock ‘n’ Beats: E esse ano você grava um disco em parceria com o Macaco Bong. O que você pode adiantar do que vai ser esse trabalho?
Emicida:
 Eu vou fazer um discão com o Macaco, um rock nervoso, rock do capeta. Eu quero fazer um barato louco. Eu acredito que a gente vai fazer uma parada histórica, um disco muito bom. E mano… sai da frente.

Rock ‘n’ Beats: Dos triunfos de sua carreira, o que você gostaria de conquistar nesse momento?
Emicida: 
Muito boa essa pergunta, porque eu não tenho uma meta. Eu não tenho um barato de pensar ‘quero tocar no Auditório do Ibirapuera, eu quero tocar fora do país…’. A qualquer momento eu sei que isso vai acontecer, tá ligado? Sou paciente, quero chegar no momento certo das coisas. O que eu quero mesmo, te falar a real da minha intenção, é conseguir consolidar, não a minha carreira, mas um cenário de música independente que circule independente de iniciativa privada ou pública, eu gostaria de ver mais bandas tendo a mesma repercussão que eu tenho devido ao trabalho. Se for para se espelhar em alguma coisa, que seja no trampo, para ver mais grupos de rap e ter vários motivos pra se orgulhar, ver música boa circulando, levando as pessoas até os lugares. Esse é um desejo que eu tenho, um sonho. Mas pra mim, está tudo acontecendo, não preciso sonhar com nada.


Fonte da entrevista : 

Rock ‘n’ Beats

 


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